ATRAIO POESIA

A VIDA É TODOS OS DIAS UMA POESIA, POSTAR POESIAS, CAMINHAR OS DIAS.

quinta-feira, 31 de março de 2011

QUADRO À ÓLEO

A barca desce
O rio amarelo,
Em queda d’água,
Sob o verde luar.

À volta, o romance de pedra,
Com peixes cor de esmeralda.

À margem a grama crepita,
O fogo respinga úmido.

A harmonia íntima da borboleta parece antiga;
A semente voa no ar,
Temperando o ambiente.

Ao longe, a lâmpada brilha,
Sobre a janela vermelha.

A leveza do milho parece mágica;
O hóspede observa,
O néctar das nuvens,
Moldura de um quadro à óleo.

O silêncio paira na ponte,
A tela é ampla sintonia com o universo.

terça-feira, 29 de março de 2011

CIDADE DESCOBERTA

Aquele lugar vale ouro,
Cidade descoberta de dunas,
Formada de meias e giz.

Um gato esconde o punhal
Atrás do lixo do pátio,
E espia o pão assando dentro do forno.

Dois homens se enfrentam;
Possíveis rivais;
Na dança e no olhar sedutor,
Que brinca de revelar a ingenuidade.

Há rio doce que encontra o mar;
Amar, num gole santo,
Extasiar o pé no convite.

A pedra cor de jade,
O verde do olhar sorri,
O último que morre,
Na fina teia da aranha da liberdade.

Flores se escondem na toca do coelho,
Mesmo que pulem a janela de noite,
Para dormir com o anjo salvador.

A viagem, a estrada,
Coberta de luz, guiando estrelas,
Crianças platinadas,
Sem saber esconder a alegria.

A cama desnuda,
revela seu gosto por morrer,
E o medo de perder a hora de voltar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A MULHER E O VESTIDO

     


A mulher se desnudava com freqüência,
Chamavam-na exibicionista,
Com aquele hábito de se expor à toa...

Acostumaram-se, no entanto, a vê-la descoberta,
E a não dar importância.

Um dia, no entanto, surpreendeu vestida,
De forma sublime, suave,
Como se fosse aquele o seu costume;
A mão a vagar nos tecidos.

O tempo passou sem estranhamento,
Agora,  é vista a distribuir vestes,
                     Com ar de quem tem nudez de sobra.

domingo, 27 de março de 2011

PERFUME DE INCENSO

Abertura: no início tudo era o caos. do caos se fez a origem de todas as coisas. no meio de tudo o verbo. o singular, o subjetivo. a palavra. acendo o incenso e encho a sala de perfume....

                           LIVRO I : PERFUME DE INCENSO


 

Abro o incenso, acendo, é noite.
A fumaça sobe e o perfume é forte.
Respiro.
Hora de escrever.

Olho o escuro da noite no alto da montanha
Luzes piscam
O vento sobrevoa sereno
Respiro o ar da janela, renovando o espírito

Abro o chocolate,
Sacio meu desejo.
Há coisas que não nos esclarece a razão;
Há sensações que não conseguimos explicar.
O deleite não tem portas abertas


A lua, hoje, está cheia;
Brilha mais que o céu,
Intensidade que comemora sua forma plena.
Pisco o olho e tento fixar sua luz.
                       Preencho minha fantasia.


                        Deu vontade de tomar chá;
Outro cheiro que me arrepia,
Tenho camomila e hortelã.
Calma e frescor.
Por que a natureza nos fascina?


O sabor da noite vai ficando mais denso.
Sobe, lá de fora, um cheiro de alecrim com laranja.
            Lampião aceso que não sai da memória.
Água de lavar os pés.
Se eu morrer, me põe de volta no vento.



Cruzo os dedos de vontade.
Tomara que amanhã tenha arco-íris.
Quero pintar meu romance,
Quero chorar,
Quero partir quebra-cabeça.

A porta lá embaixo bate,
           Deixei a janela aberta
O vento soprou mais forte.
Há tempos que não vejo gente.
Solidão, minha eterna companheira

A água desce pelo esôfago,
Respiro pelo diafragma,
O ar enchendo a barriga e os pulmões;
Se pudéssemos voar?
            Acho que o mundo não seria tão material.

Abro a boca,
O sono me engole;
O cheiro acabou,
A fumaça acabou,
A vontade acabou,
Meu mundo não me pertence.